Thursday, August 09, 2007

Do que fui e do que sou

Já fui de me esconder atras do humor, de justificar por timidez a minha covardia.
Um milhão de oportunidades perdidas depois, resolvi que prefiro apostar no incerto do que ter a certeza de me manter inerte.
Não há dor maior do que ser prisioneiro do próprio medo. E não há sentimento pior do que não ter o que sentir..

Wednesday, August 08, 2007

Um caso à parte

No momento que entrei na sala senti todos os olhos sobre mim. O faxineiro acabara de limpar, levando dali pegadas de lama, perfumes baratos e histórias contadas. A lâmpada do abajur mal-colocado no canto da sala piscava vigorosamente, tornando macabras as expressões de tédio dos que estavam perto.
Notei que esperavam alguém, ou algo de alguém que soubesse por que os tinham convocado. Diante de tamanho burburinho provocado pela minha chegada reprimi-me por estar mais uma vez atrasada. O que fazer agora? Era esperado que fizesse um discurso? Apavorada disse um constrangido “olá” e escondi-me no fundo da sala, certificando-os que não era eu a culpada da repentina quebra de suas rotinas. Eu dizia-lhes sem pronunciar “estou do seu lado, sou mais uma para reforçar-lhes a confusão.” Apenas um homem continuava virado em minha direção, este revirou os olhos e deu um disfarçado grunhido de insatisfação. Detestei aquele homem.

Um segundo depois (ou o que me pareceram cinco minutos), este mesmo homem se levanta e, com ares de humorista, convoca sua equipe para dizer-lhes suas atividades. Duas semanas teríamos de conviver e tentar desenvolver nosso projeto mais complexo: teríamos de nos conhecer.
Imediatamente saímos para tomar uma cerveja – todos nós concordamos que as melhores histórias transbordam em uma mesa de bar. Logo após a rodada de apresentação, falávamos de frutas. Prevendo que o assunto não acabaria tão cedo, tomei as rédeas da apresentação e me retirei. Acredito que eles tenham concluído que eu era uma pessoa que apreciava um bom sono, ou pensaram que não gostava de discutir frutas. Era um bom começo.

No decorrer das duas semanas ficamos muito próximos, aprendemos a dividir confidências, discorrer sobre presente, passado e futuro. No entanto, o que mais me intrigava era o homem que uma vez dissertara sobre a importância das atividades que iríamos exercer. “Conhecer quem nos ronda é essencial para quem conheçamos a nós mesmos”, ele nos disse. Era uma pessoa brilhante, de um sarcasmo lírico, comunicativa em um modo quase cômico. Perguntava-nos sempre como estávamos, criticava e discorria sobre nossos repetidos assuntos, mas sempre.. sempre desviava o olhar. Aquele homem não queria ser descoberto. Meu objetivo tinha mudado.
A partir do momento em que fui capaz de capturar um olhar fugitivo, alterei as coordenadas de meu destino e dediquei-me a descobrir algum dos muitos porquês desse alguém que insiste em seu mistério. Ele tinha a maior cápsula protetora que já conheci. Um alguém com uma docilidade extrema, a quilômetros de distância.

Talvez para evitar que as reais perguntas sejam feitas, contou-me muito das coisas que não lhe importavam. Críticas duras a assuntos maleáveis, ele deixava-se envolver simplesmente para no último minuto recuar. Por vezes, consegui capturar um fragmento de olhar interessado, ou mesmo um suspiro nervoso. Ele fora traído pelo que não dizia, uma contradição ambulante entre meios verbais e não verbais. Este homem insinuava ser impossível agradar, justamente para fazer-nos desistir da tentativa.

Era um líder do mundo subjetivo. Tão certo de seus princípios que abdicou dos sonhos inocentes e estabeleceu a ditadura sobre si. Construiu á sua volta uma muralha quase perfeita e, como eu, teve de lutar com a dualidade entre o não querer ser compreendido e a vontade de ser descoberto.

Falhei como sabia que iria. O que descobri sobre este homem foi uma ínfima parte diante de quem tem tanto a oferecer. Mas como ele mesmo nos disse, conheci um pouco mais de mim. Pulsava em mim um interesse vivo sobre os outros. Vivacidade esta que senti apenas em meus 7 anos de idade, quando ganhei meu primeiro livro.

Ainda era madrugada quando despertei. Ainda assim, sentia ter dormido por horas, anos. É curioso como tendemos a arregalar os olhos na falta da luz e, no entanto, viver de olhos fechados. Este homem que nunca conheci transformou-se em tudo o que esperava. Ele era um cavaleiro mítico de armadura reluzente, um príncipe de sorriso doce e palavras furtivas. Um ser à parte: errante, fascinante.

Para voar

Ao som do encontro entre as primeiras gotas de chuva e a face dos que choram, grite.

E, com a simplicidade de um juntar de pálpebras, sinta os pés deixarem o chão. Levite.

Monday, July 23, 2007

Dos dias de hoje

Estou só. Eis a frase que muitos querem e têm de proferir. O telefone toca sem parar e estou só. O fim de semana é repleto de programações, revestido novas descobertas, ainda só. Acordo, trabalho, conversas intermináveis, só.
Vivo em piloto automático, vejo, não sinto. Minhas piadas são sempre as mesmas, meus amores, rotineiros. Não encaro. Desligo.
Pergunto-me onde foram parar as flores e porque estão calmos os mares do pensamento. Onde estão meus livros?
Recorro à leitura, que conhece a mim como nenhum outro. Recuo diante àquela que, mascarada por calmaria se dispõe a confrontar-me comigo.
Consolido o encontro, referencio ao inimigo sempre presente. Rendo-me à solidão.

Aos Grandes

Desprezam-nos por serem maiores, diminuímo-los por sentirem-se tal. Será que nossas prioridades são universais? Teremos todos que nos adaptar ao que alguém um dia chamou de bom?
Ainda tento entender como podemos nos vangloriar de ser diferentes, se a todo tempo procuramos alguém que também o seja (exatamente como nós).
Ainda procuro resposta para os tons de desprezo e expressões desgostosas.
Prendo a respiração e reviro os olhos toda vez que as encontro. Não, não posso confrontá-las, elas fazem parte de mim.
Às vezes, gostaria de ser um pouco menos e dizer-lhes que não é tão ruim. Libertar-me da agonia dos que sabem (que há muito mais a saber) e gozar do silêncio dos que não competem.
Às vezes, quero ser menor, apenas um ser inconsciente de sua ignorância, um vivente de instinto.
Adoram-nos pela expressão de sucesso que construímos ao longo de anos de fracasso. Assistem ao nosso teatro de horrores e aplaudem. Deixam-nos sentir que somos grandes.

Monday, July 02, 2007

Cinco Minutos para Viver

E, naqueles cinco minutos antes de se conseguir o que quer, temos a sensação de toda a vida está sob nosso controle. Nos cinco segundos subseqüentes nada mais interessa.
O interessante, de fato, é o tamanho controle que nosso próprio autocontrole detém sobre nós. Pois, se controlamos o que queremos, queremos pouco, pouco o suficiente para se controlar.

No entanto, receber a nostalgia como modo de vida está longe de nos tornar pessoas melhores, ou sob controle. Um modo de vida padronizado transforma em tédio as aventuras mais loucas e confunde sentimento com uma simples e aguda dor de cabeça.
Chegamos ao ponto em que se quer o que se pode. Gostamos de quem gosta de nós. Arriscamo-nos em áreas profissionais pertinentes ao mercado atual. Almejamos dinheiro, sucesso e segurança.
Somos normais.

A objetividade conquistou o subjetivo como os grandes impérios romanos. Forçaram-nos (um alguém desconhecido vil e cruel que nada tem a ver conosco, pobres vítimas que somos) a ser doutrinados e obedientes às regras do bom senso. Ensinaram-nos que sonhar, em geral, não leva a nada e que é melhor um pássaro na mão do que dois voando.
Reduzimos as pequenas felicidades à insensatez, onde os atos extravagantes clamam imprudência.

O acessível tomou conta do emocionante assim como as máquinas, um dia, substituirão o homem.
Abdicamos do viver em prol da sobrevida.

Não estou a criticar nossa capacidade de escolher o que nos melhor convém, muito menos a incentivar atitudes impensadas. Apenas procuro me lembrar que, diante desta melancolia provocada por prever o futuro, há algum equilíbrio.
Talvez se não soubéssemos antes que vai chover, deixássemos os guarda-chuvas em casa e apreciaríamos as gotas no rosto. E nesse instante, entenderíamos o prazer de viver por momentos. Quem sabe, assim, pode a utopia tornar-se verdade.
Viver é também descontrolar-se dentro dos limites e jogar-se do precipício de pouca altitude.
Desafio maior é aprender a viver sem contar com os próximos cinco minutos. Fechar os olhos e tentar manter o percurso.

Wednesday, March 07, 2007

Reduzindo ao Máximo

Cada vida particular compreende milhares de fragmentos que, juntos formam um todo. Ao olhar de longe, a figura se apresenta opaca, sem particularidades, porém completa. Consiste à verdadeira busca do ser humano conhecer cada pedaço que lhe compõe. Filósofos utilizam livros, palavras, pensamentos para compreender a complexidade humana, músicos se guiam pelo som e transbordam-se em suas almas, pintores vivem em um mundo de imagens e retratos onde seu mundo particular combina-se com outros. É fechar os olhos e ver-se formar em sua magnitude. O verdadeiro auto-conhecimento seria... Deus?
As religiões são caminhos para se chegar a si mesmo. As pessoas se relacionam para atingir, também, a essência do próximo e caso não estejam preparadas para tamanho passo, forma-se um vazio. Vazio o qual mobilizará toda uma vida em busca de preenchimento. A procura de um encaixe perfeito, de um desenho mais bonito nos faz desprezar, muitas vezes, peças que muito nos custaram adequação. Um vazio cujo pedaço não está ao alcance.
O curioso é que, talvez, a ‘grande força’, ‘Deus’ ou quaisquer definições que se possam existir, seja exatamente a junção das peças de um grandioso quebra cabeças. E tais peças crescem em sua complexidade no máximo que possam se fragmentar. O menor é grandioso.
A vida é feita de menos que momentos, ela é feita de sensações. Uma vez alcançado o seu ‘eu interior’, busca-se a completude pelo combinar de suas próprias pecas com as de outrem e, a partir daí dois viram um e três viram um e o mundo vira, ele mesmo.