Monday, July 23, 2007

Dos dias de hoje

Estou só. Eis a frase que muitos querem e têm de proferir. O telefone toca sem parar e estou só. O fim de semana é repleto de programações, revestido novas descobertas, ainda só. Acordo, trabalho, conversas intermináveis, só.
Vivo em piloto automático, vejo, não sinto. Minhas piadas são sempre as mesmas, meus amores, rotineiros. Não encaro. Desligo.
Pergunto-me onde foram parar as flores e porque estão calmos os mares do pensamento. Onde estão meus livros?
Recorro à leitura, que conhece a mim como nenhum outro. Recuo diante àquela que, mascarada por calmaria se dispõe a confrontar-me comigo.
Consolido o encontro, referencio ao inimigo sempre presente. Rendo-me à solidão.

Aos Grandes

Desprezam-nos por serem maiores, diminuímo-los por sentirem-se tal. Será que nossas prioridades são universais? Teremos todos que nos adaptar ao que alguém um dia chamou de bom?
Ainda tento entender como podemos nos vangloriar de ser diferentes, se a todo tempo procuramos alguém que também o seja (exatamente como nós).
Ainda procuro resposta para os tons de desprezo e expressões desgostosas.
Prendo a respiração e reviro os olhos toda vez que as encontro. Não, não posso confrontá-las, elas fazem parte de mim.
Às vezes, gostaria de ser um pouco menos e dizer-lhes que não é tão ruim. Libertar-me da agonia dos que sabem (que há muito mais a saber) e gozar do silêncio dos que não competem.
Às vezes, quero ser menor, apenas um ser inconsciente de sua ignorância, um vivente de instinto.
Adoram-nos pela expressão de sucesso que construímos ao longo de anos de fracasso. Assistem ao nosso teatro de horrores e aplaudem. Deixam-nos sentir que somos grandes.

Monday, July 02, 2007

Cinco Minutos para Viver

E, naqueles cinco minutos antes de se conseguir o que quer, temos a sensação de toda a vida está sob nosso controle. Nos cinco segundos subseqüentes nada mais interessa.
O interessante, de fato, é o tamanho controle que nosso próprio autocontrole detém sobre nós. Pois, se controlamos o que queremos, queremos pouco, pouco o suficiente para se controlar.

No entanto, receber a nostalgia como modo de vida está longe de nos tornar pessoas melhores, ou sob controle. Um modo de vida padronizado transforma em tédio as aventuras mais loucas e confunde sentimento com uma simples e aguda dor de cabeça.
Chegamos ao ponto em que se quer o que se pode. Gostamos de quem gosta de nós. Arriscamo-nos em áreas profissionais pertinentes ao mercado atual. Almejamos dinheiro, sucesso e segurança.
Somos normais.

A objetividade conquistou o subjetivo como os grandes impérios romanos. Forçaram-nos (um alguém desconhecido vil e cruel que nada tem a ver conosco, pobres vítimas que somos) a ser doutrinados e obedientes às regras do bom senso. Ensinaram-nos que sonhar, em geral, não leva a nada e que é melhor um pássaro na mão do que dois voando.
Reduzimos as pequenas felicidades à insensatez, onde os atos extravagantes clamam imprudência.

O acessível tomou conta do emocionante assim como as máquinas, um dia, substituirão o homem.
Abdicamos do viver em prol da sobrevida.

Não estou a criticar nossa capacidade de escolher o que nos melhor convém, muito menos a incentivar atitudes impensadas. Apenas procuro me lembrar que, diante desta melancolia provocada por prever o futuro, há algum equilíbrio.
Talvez se não soubéssemos antes que vai chover, deixássemos os guarda-chuvas em casa e apreciaríamos as gotas no rosto. E nesse instante, entenderíamos o prazer de viver por momentos. Quem sabe, assim, pode a utopia tornar-se verdade.
Viver é também descontrolar-se dentro dos limites e jogar-se do precipício de pouca altitude.
Desafio maior é aprender a viver sem contar com os próximos cinco minutos. Fechar os olhos e tentar manter o percurso.